Candomblé de Caboclo

Tuesday, September 25, 2007






VUNGI OU IBEJI

Vamos agora entrar numa grande brincadeira, mas falando seriamente! Vungi – na nação Angola e Congo; ou Ibeji – na Nação Ketu; é o Orixá Erê, ou seja, o Orixá criança. É a divindade da brincadeira, da alegria; sua regência está ligada à infância.
Discute-se, ainda hoje, sobre os fundamentos deste Orixá. Dizem que estão perdidos, pois se trata de uma divindade raríssima e até mesmo pouco conhecida no Brasil. São gêmeos, duplos e têm o sincretismo de Cosme e Damião; e Crispim e Crispiniano, tão cultuado em terras brasileiras.
Vungi está presente em todos os rituais do candomblé, pois, assim com Exu, se não for bem cuidado, pode atrapalhar os trabalhos, com suas brincadeiras infantis, desvirtuando a concentração dos membros de uma Casa de Santo.
Vungi (ou Ibeji) é o Orixá da brincadeira infantil. Rege a alegria, a inocência, a ingenuidade da criança. Sua determinação é tomar conta do bebê até a adolescência, independentemente do Orixá que a criança carrega.
Vungi é a brincadeira de roda, é o pique-esconde, a travessura, é a imitação de adulto, pela criança. É também o moleque levado, teimoso, manhoso, malcriado, mimado, chorão. É a travessura cósmica. Está presente entre nós, no espírito ativo de uma criança e até mesmo no adulto. Está também nos centros dos pássaros, nas evoluções de um bando de aves.
Vungi é alegria, a felicidade, o contentamento, a formosura, o encantamento. É o olho brilhante da criança, o sorriso infantil, o jeito meigo e travesso. É o choro do bebê. É também a brincadeira sadia dos adolescentes.
Companheiro inseparável de logun-edé e Ewá, forma um trio de muita bagunça, de alegria, felicidade e, principalmente, beleza.
Qualquer tipo de brincadeira infantil tem a regência de Vungi, que será sempre a essência infantil, o jeito que Olorun criou, especialmente para a criança.
Vungi então é o começo, é o engatinhar, é o primeiro passinho. Rege a beleza da vida e está presente nas flores, principalmente, proporcionando o perfume e encanto.
Vungi é tudo isto e muito mais daquilo que conhecemos como criança. Cada um de nós teve Vungi bem próximo, pois, um dia, fomos crianças. E podemos dizer que, cada vez que avistamos uma flor, sentimos o seu perfume, estamos em contato com Vungi. Cada vez que vemos uma criança dormindo, brincando, cantando, estamos em contanto com Vungi. Cada vez que nos pegamos cantando e vivendo alegremente, estamos em contato direto com Vungi. Cada vez que reparamos que estamos vivos, felizes e dispostos a transmitir esta alegria, somos Vungi!
Poderia falar da Mitologia de Vungi, mas creio não será necessário, pois seria a repetição de episódios que nós, seres humanos, vivemos quando crianças.
Se você quer realmente conhecer lendas sobre Vungi, feche os olhos, lembre-se de sua infância, procure lembrar-se de uma felicidade, de uma travessura, e você estará vivendo (ou revivendo) uma lenda destes Orixás, pois tudo aquilo que de bom nos aconteceu quando em nossa vida infantil foi gerado, regido e administrado por Vungi. Portanto, ele já viveu todas as felicidades e travessuras que todos nós, seres humanos, vivemos.A lenda, a historia de Vungi, acontece a cada momento feliz de uma criança. Ao menos para manter viva este tão importante Orixá, procure dar felicidade a uma criança. Faça você mesmo (ainda que leigo no Culto) o encantamento de Vungi. É fácil: faça gerar dentro de si a felicidade por estar vivendo. Transmita essa felicidade, contagie o seu próximo com ela. Encante Vungi, com a magia do sorriso, com amor de uma criança.
E seja Vungi, feliz!

Tuesday, September 18, 2007


OSSÃE

O deus das ervas, dono das matas, orixá da medicina, da cura, da convalescença. Mestre do poder curativo das ervas, que proporciona o Axé das plantas, ou seja, a força vital, imprescindível à realização de qualquer ritual nos cultos africanos.
Ossãe é a magia das folhas, tornando mágica, também, sua convivência com os seres humanos.
Nos dias em que o homem agride a natureza, derrubando árvores, fazendo queimadas, numa atitude covarde e insensata, Ossãe se levanta como defensor, pois ele é a própria Ecologia. Ossãe é a folha; a árvore; o vegetal; a mata; a floresta, a qual quanto mais densa, mas faz notar sua presença.
Ossãe, de um bilhão de formas, tamanhos, cheiros e essências. O segredo do poder de curar pela planta está com ele, é proporcionado por ele.
Nos rituais do Candomblé o banho de ervas – Abo – é vital, imprescindível. Tudo é passado no Abô. Desde louças, travessa de barro, moedas, pulseiras, búzios, quartinhas, facas, colheres de pau, gamelas, até o próprio homem, que vai se banhar e se purificar pelas ervas. O Abô é algo que não pode faltar nos rituais, que vai dar o encanto, vai possibilitar a presença da força cósmica do Orixá. Mesmo nos sacrifícios animais, canta-se para Ossãe – mesmo que o sacrifício não seja para ele – pois dele dependerá o encantamento daquele ato sagrado. É Ossãe que trará a calma, a paz, o encanto, para que o ritual transcorra bem.
Realmente, Ossãe é o encanto, a magia. E é por isso que quando se vai à mata buscar ervas leva-se fumo de rolo, mel e moedas, para dar ao Senhor das matas e facilitar a busca da erva desejada, pois Ossãe pode escondê-la de nós, criar uma ilusão de ótica e não permitir que a vejamos, mesmo que esteja à nossa frente, debaixo de nosso olhos.
Ossãe está presente nos momentos importantes da vida. Na salvação de uma vida, através da medicina; nos consultórios. Afinal, Ossãe é o alquimista, o químico, o farmacêutico, o Senhor das poções mágicas e curativas. É o feiticeiro, o bruxo, o medico dos Orixás, conhecedor profundo do segredo de todas as ervas.
É o pai da homeopatia; aquele que gera a capacidade de cura, pela ingestão ou aplicação de plantas medicinais. E está presente, também, no cotidiano, pois estamos sempre muito próximos do mundo vegetal. É por isso que não devemos arrancar folhas sem motivos justos; derrubar árvores ou fazer queimada, pois estaremos violando a natureza, ofendendo seriamente esta poderosa força natural que denominamos Ossãe.
Sentimos ainda mais sua presença quando estamos num horto, em meio às ervas. Ossãe é a mágica da folha, a sombra que nos proporciona paz, tranqüilidade e harmonia.

Mitologia

Ossãe é filho de Nana, irmão de Obaluaê, Oxumarê e Ewá. Sempre foi muito circunspeto, introvertido, pensativo. Ainda jovem, partiu para floresta – que sempre o atraiu – e lá estudou as plantas, as árvores e aprendeu o segredo das ervas, cuidando dos animais feridos e fazendo experiências.
Deteve, assim, o domínio do poder das ervas. E sempre que algum outro Orixá precisava de uma planta, de uma erva, devia, em primeiro lugar, pedir autorização a Ossãe, e o senhor do verde.
Xangô, Reio de Oyó, achando que todos deveriam ter o conhecimento das ervas, pediu à Iansã, Senhora dos ventos, que convencesse Ossãe a dividir com os demais Orixás os mistérios e os segredos do uso da planta. Ela, por sua vez partiu para a floresta, sacudiu sua saia e fez gerar uma forte ventania, espalhando as folhas por todo o reino de Oyó e outro como Ketu, Ifé, Oxogbô, Abeokutá, Numpé, etc.
Ossãe assitia a tudo de forma impassível. Via suas folhas indo em direção a todos os reinos, sem dizer uma palavra. No fundo, o alquimista sabia que estava dividindo as plantas, as espécies e nada podiam fazer diante de tão forte ventania.
Vitoriosa, Iansã voltou ao reino de Xangô, certa do dever cumprido. Na floresta, Ossãe lamentava o vento que espalhara suas folhas, mas, intimamente, sorria de forma irônica e comentou consigo mesmo:
- De que adianta as folhas, sem o segredo? De que adianta possuir a erva, sem o mistério? De que adianta possuir o ingrediente mágico, sem o poder de gerar a magia?
Assim, Ossãe continuou como o mestre das ervas. Embora os outros Orixás também tenham suas folhas, ficou com Ossãe o segredo e a forma de encantá-la. De nada adiantou terem as folhas, se não sabiam usá-la ou aplicá-las. Para isso, continuaram a depender de Ossãe que, sabendo perdoar, continuou a curar, a dar receitas para gerar o encantamento, pois nada podia ser feito sem as ervas. Nenhum ritual daria certo sem o encanto das folhas, como até hoje.
Por isso, o africano nos ensinou, através de um Orikí (verso sagrado) o que significa, exatamente, o poder de Ossãe:
“Sem folha não há orixá, não há o Axé!”.
(Kosi ewe, kosi orisa, diz o ditado iorubano).

Dados

Dia: Quinta feira
Data: 5 de Agosto
Metal: Estanho
Cor: Verde e branco
Partes do corpo: o peito dos pés, parte da perna entre o tornozelo e o joelho.
Comida: fumo, mel, cachaça (otin), milho vermelho, espigas regadas com mel.
Arquétipo: Pessoas equilibradas e capazes de controlar seus sentimentos e emoções, não deixam suas simpatias e antipatias interferirem nas suas decisões ou influenciarem suas opiniões das pessoas ou acontecimentos, aquele que não tem uma concepção estreita da moral e da justiça.
Símbolos: Ferros com sete pontas com um passaro, que é árvore com os ramos e uma ave pousada no topo.


EWÁ

Ewá é a divindade do canto, das coisas alegres e vivas. Dona de raro encanto e beleza é considerada como a Rainha das mutações, das transformações orgânicas e inorgânicas. É o Orixá que transforma a água de seu estado liquido para o gasoso, gerando nuvens e chuvas.
Quando olhamos para o céu e vemos as nuvens formando, às vezes, figuras de animais, de pessoas ou objetos, não nos importamos muito. Porém, ali está Ewá, Rainha da beleza, evoluindo solta pelos céus, encantando e desenhando por cima do azul celeste da atmosfera da Terra. Ewá é também o inicio da chuva, regida por sua mãe Nanã. Este seu principal encantamento: o ciclo interminável de transformação da água em seus diversos estado, incluindo o sólido. Ela, como todos os outros, está entre nós no cotidiano, convivendo e influenciando nosso comportamento, mexendo com nosso destino, gerando situações que vamos viver diariamente.
Ewá também esta ligada às transformações orgânicas e inorgânicas, que se sucedem no Planeta. É a mágica da transformação. Está ligada à mutação dos animais e vegetais. Ela é o desabrochar de um botão de rosa; é a lagarta que se transforma em borboleta; é a água que vira gelo e o gelo que vira água; faz e desfaz, num verdadeiro balé da Natureza.
Senhora do belo, Ewá é aquela que vai dar cor ao seres; torná-los bonitos, vivos, estimulando a sensibilidade; a fragilidade das coisas; a transformação das células, gerando o que há de mais lindo no mundo. É a deusa da beleza; é o sentimento de prazer pelo que é belo; é o respeito pela maravilha que o mundo apresenta.
A força natural Ewá é ligada também à alegria, dividindo com Vungi (Ibeji) a regência daquilo que se chama ou se tem como feliz. Está presente nas coisas e nos momentos alegres, que têm vida.
É também a divindade do canto; da música; dos sons da natureza, que enchem nossos ouvidos de alegria e contentamento. Está presente no canto dos pássaros; no correr dos rios; no barulho das folhas, sopradas ao vento; na queda da chuva; no assovio dos ventos; na música interpretada por uma criança, no choro do bebê, no canto mais que sagrado da mãe Natureza.
Ewá é a própria beleza. É o som que encanta. É o canto da alegria. É a transformação do mal para o bom. É a vida...

Mitologia

Ewá é filha de Nanã, irmã de Obaluaê, Ossãe e gêmea de Oxumarê. Apesar de gêmea, foi a segunda a nascer sendo, assim a caçula dos filhos de Nanã. Cada um dos filhos regia algo: Obaluaê, as pestes e moléstia contagiosas; Ossãe, as ervas, as plantas e seus segredos e mistérios; Oxumarê, o arco íris, a riqueza.
Ewá nada regia. Era apenas uma menininha bonita, formosa, cheia de encantos. E assim cresceu, bela e de brilho intenso.
Pouco a pouco, os homens foram se interessando por ela, tal era a sua beleza. Muitos pretendentes chegavam, de todas as partes, com a intenção de desposar Ewá, pois usa beleza era tão grande que sua fama chegou a todos os reinos.
Em pouco tempo o reino de Nanã estava cheio de supostos noivos, que lutavam entre si para conquistar o coração da jovem Ewá. As lutas foram crescendo e tomando proporções, a ponto de, em cada canto do reino, haver um grupo em luta, com um só objetivo: desposar Ewá. Isso tudo fugiu ao controle de todos, pois o encanto da jovem parecia enfeitiçar os homens, a ponto de matarem-se uns aos outros.
A situação já passara dos limites e os pretendentes, que não paravam de chegar, foram até a própria Ewá, obrigando-a a escolher um deles. Isto acontecia aos gritos, empurrões, exibições de força e poder, cobranças violentas, barulho, levando a jovem a um desespero que jamais sentira.
A pressão foi tão grande, mas tão grande que, de repente, ouviu-se um grande estrondo. Todos se calaram, voltaram-se para Ewá e ficaram imóveis, estáticos, e de olhos arregalados com o que estavam vendo.
Ewá, impossibilitada de escolher um noivo, e atormentada por ver tanta morte e confusão por sua causa, começou a se transformar. Como um reflexo do sol, sua silueta começou a perder a forma, até que restou apenas uma poça d’água no chão. Aos poucos, aquela poça foi evaporando e subindo em direção ao céu. Os homens, pretendentes, não se moviam, só acompanhavam a evaporação, bem visível e o vapor subindo.
Em pouco tempo uma enorme nuvem branca, contrastando com o azul-claro do céu, foi desenhando um coração, numa visão de raríssima beleza. Ewá não se casou com ninguém, mas colocou na mente dos homens que o amor nasce naturalmente, não com disputas e guerras.Assim, Ewá transformou-se e recebeu o poder de ir ao céu , como nuvem e voltar a terra, como água, permanecendo como o símbolo da beleza, do canto e da alegria.

Dados

Dia: sábado
Data: 13 de dezembro;
Metal: ouro, prata e cobre;
Cor: vermelho maravilha;
Partes do corpo: olhos;
Comida: banana inteira da terra feita em azeite de dendê com farofa do mesmo azeite.
Arquétipo: tendência à duplicidade devido à natureza andrógena da deusa, tendência à riqueza, magnetismo, gosta de jogar, bonitos, gostam de elogios, imediatistas, necessitam de outros odus para que ajudam com seu brilho nos processos difíceis.
Símbolo: ejô (cobra) e espada







OXUMARÊ

Oxumarê é o Arco Íris, sinal de bons tempos, de bonança. É o Orixá da riqueza, do dinheiro, chamando carinhosamente de “o banqueiro dos Orixás”. É a cobra sagrada Dan. Orixá da prosperidade, da fartura, do lucro.
O homem, que vive atrás do dinheiro, que trabalha para ganhar seu sustento, não pode imaginar, às vezes, que tem esta força da Natureza diariamente ao seu lado. Oxumarê está presente praticamente em todos os momentos de nossa vida, pois tudo gira em torno do dinheiro.
Oxumarê está presente nas negociações, no pagamento de contas, no recebimento de um prêmio, na compra, nos negócios envolvendo gastos, lucros e despesas. Está presente nos bancos, nas financeiras, enfim, nos lugares onde se manuseia dinheiro.
Oxumarê é o perde/ganha do homem. É a felicidade de receber uma quantia e a tristeza de perder outra. É o elemento das grandes negociações, da aposta. Seu encanto está no tilintar das moedas.
É também o Orixá das prosperidades, da fartura, da abundância. É por isso que aqueles regidos por Oxumarê sempre estão bem de vida. Para eles o dinheiro não é problema. Gastam e ganham demais e estão sempre com os bolsos cheios.
Oxumarê é aquele que sabe fazer negócios. Quando se vai fechar um contrato, fazer uma compra, uma proposta, vender algo invocamos Oxumarê para nos orientar, pois ele é o Orixá que sabe negociar. É ele que sabe pechinchar, tratar, comprar e vender.
Oxumarê também é a beleza das cores. É o arco-íris, que vai colorir o céu, anunciando coisas boas. É o fenômeno que vai gerar o colorido dos céus. É a beleza da cor, a hipnose da cobra, a felicidade do lucro.

Mitologia

Irmão gêmeo de Ewá e tendo com irmãos mais velhos Ossãe e Obaluaê - todos filhos de Nana – Oxumarê sempre foi frágil, franzino, mas dotado de grande inteligência e capacidade.
Um dia, viu-se frente a frente com Olokun pai de Iemanjá, que lhe perguntou como poderia achar pedras brilhantes, preciosas.
Oxumarê pensou, pensou e respondeu ao Senhor do oceano:
- Meu rei, se quer as pedras preciosas, é preciso que faça um investimento e me dê seis mil búzios (moeda corrente na África antiga).
Respondeu Olokun
- Eu lhe dou!
E Oxumarê apontou para a própria casa de Olokun, o mar, explicando-lhe que nas partes rasas poderia encontrar o que procura. As pedras, nos pontos mais rasos do mar, brilhavam com a luz do sol.
Olokun ficou tão feliz que, além do pagamento dos seis mil búzios, ainda deu a Oxumarê a capacidade de transformar-se em serpente e poder, com a ponta do rabo, tocar a terra e com a cabeça tocar o céu.
Com tal poder, Oxumarê transformou-se em serpente, esticou-se até a terra de Olorun, no céu e com os seus mil búzios falou ao Criador:
- Pai, cheguei até o Senhor. Tive que me esticar demais, para pedir-lhe ajuda, para fazer de mim aquele que tem capacidade de dobrar tudo o que tem.
E Olorun dobrou o número de búzios – de seis para doze mil.
Daí para frente, Oxumarê passou a ser consultado sobre os grandes negócios dos Orixás. Principalmente Xangô, que fez dele seu consultor, seu grande conselheiro, aumentando sua riqueza do deus do trovão, ao mesmo tempo em que a do próprio Oxumarê.
E este poder de se transformar em serpente e ir até o céu, originou uma saudação em forma de Orikí, muito bonito, que diz: - Oxumarê ego bejirin fonná diwó.“O Arco-íris que se desloca com a chuva e guarda o fogo no punho”.


Dados

Dia: terça-feira;
Data: 24 de Agosto;
Metal: ouro e prata mesclado;
Cor: amarelo mesclado com verde ou amarelo pintado com preto;
Partes do corpo: espinha dorsal, sistema nervoso e sistema neurovegetativo.
Comida: ovos cozidos com azeite de dendê, farinha de milho e camarão seco;
Arquétipo: desconfiados, observadores, pessoas que desejam ser ricas, pacientes e perseverantes nos seus empreendimentos e que não medem sacrifícios para atingir seus objetivos. Com sucesso tornam-se facilmente orgulhosos e pomposos, gostam de demonstrar sua grandeza recente, mas estendem a mão em socorro quando alguém precisa.
Símbolos: duas serpentes de ferro

Sunday, September 16, 2007

FESTA EM HOMENAGEM A OMOLU E NANÃ
REALIZADA NO DIA 01/09/07
TEMPLO ESPIRITUAL CABOCLA IRACEMA


Tuesday, September 11, 2007

OBALUAÊ

Obaluaê é uma flexão dos termos: Oba (rei) – Oluwô (senhor) – Ayiê (terra), ou seja, “Rei, senhor da Terra”. Omulu também é uma flexão dos termos: Omo (filho) – Oluwô (senhor), que quer dizer “Filho e Senhor”. Obaluaê, o mais moço, é o guerreiro, caçador, lutador. Omulu o mais velho, é o sábio, o feiticeiro, guardião. Porém, ambos têm a mesma regência e influência. No cotidiano significam a mesma coisa, têm a mesma ligação e são considerados a mesma força da natureza.
Obaluaê (ou Omulu) é o Sol, a quentura e o calor do astro rei. É o Senhor das pestes, das moléstias contagiosas, ou não. É o rei da Terra, do interior da Terra, e é o Orixá que cobre o rosto com o Filá (de palha – da - Costa), porque para os humanos é proibido ver seu rosto, pela deformação feita pela doença, e pelo respeito que devemos a este poderosíssimo Orixá.
Obaluaê está no organismo, no funcionamento do organismo. Na dor que sentimos pelo mau funcionamento dos órgãos, ou por uma queda, corte ou queimadura.
Obaluaê rege a saúde, os órgãos e o funcionamento destes. A ele devemos nossa saúde e é comum, nas Casas de Santos, se realizar os Eboris de Saúde, que fazem pra trazer saúde para o corpo doente.
O órgão central da regência de Obaluaê é a bexiga, mas está ligado a todos os outros. Ele trata do interior, fundamentalmente, mas cuida também da pele e de suas moléstias.
Divide com Iansã a regência dos cemitérios, pois ele é o Orixá que vem como emissário de Oxalá (princípio ativo da morte), para buscar o espírito desencarnado. É Obaluaê (ou Omulu) que vai mostrar o caminho, servir de guia para aquela alma.
Obaluaê também é o Senhor da Terra e das camadas de seu interior, para onde vamos todos nós. Daí a ligação que tem com os mortos, pois ele é quem vai cuidar do corpo sem vida, e guiar o espírito que deixou aquele corpo. É por isso que Obaluaê e Omulu gostam de coisas passadas, apodrecidas.
O sol também tem a sua regência. Ele também é o Calor provocado pelo sol quente. Há quem diga que não se deve sair à rua quando o Sol está quente sem a proteção de um patuá, a fim de não correr os riscos e não sofrer a ira de Obaluaê, geralmente fatal.
Obaluaê está presente em nosso dia-a-dia, quando sentimos dores, agonia, aflição, ansiedade. Está presente quando sentimos coceira e comichões na pele.Rege também o suor, a transpiração e seus efeitos. Rege aqueles que tem problemas mentais, perturbações nervosas e todos os doentes.
Está presente nos hospitais, casa de saúde, ambulatórios, postos de saúde, clínicas, sempre próximo aos leitos. Rege os mutilados, aleijados, enfermos. Ele proporciona a doença, mas, principalmente, a cura, a saúde. É o Orixá da misericórdia.
Obaluaê é à força da Natureza que rege o incômodo de um modo geral. Rege o mal estar, o enjôo, o mau humor, a intranqüilidade. É o Orixá do abafamento e está presente nele, bem como na má digestão e na congestão estomacal. Gera o ácido úrico e seus efeitos.
Obaluaê está presente em todas as enfermidades e sua invocação, nessas horas, pode significar a cura, a recuperação da saúde.

Mitologia

Filho de Nanã – que abandou por ser doente – foi criado por Iemanjá. É o irmão mais velho de Ossãe, Oxumarê e Ewá; Orixá fundamentalmente Jeje, mas louvado em todas as nações, por sua importância.
Conta-se que, uma vez esquecido por Nanã, fora criado por Iemanjá, que curou das moléstias. Cresceu forte, desenvolveu a arte da caça, tornando-se guerreiro e viajante.
Certo dia, numa de suas jornadas, chegou até uma aldeia, coberto de palha, como sempre viveu. Como todos conheciam sua fama, suas ligações com as moléstias contagiosas, foi barrado antes mesmo de penetrar na aldeia.
-Não o queremos aqui! - disse o dirigente da tribo.
- Mas quero apenas água e um pouco de comida, para prosseguir minha viagem. Apenas isso! – respondeu Obaluaê, ou melhor, dizendo Xapanã, nome pelo qual era chamado.
- Vá-se embora, Xapanã! Não precisamos de doença, nem de mazelas em nossa aldeia. Vá procurar água e comida em outro lugar!
E Xapanã, então foi sentar-se no alto do morro próximo. A manhã mal começara e ele ficou, sentado, envolto em palha da costa, observando a subida do sol.
O tempo foi passando, as horas foram-se passando e, ao meio-dia, exatamente, o Sol já escaldante, tornou-se insuportável. A água ficara quente, o alimento se estragava e toda a tribo se contorcia de dor, aflição e agonia. Xapanã a tudo observava, imóvel, como um totem, como um símbolo de palha.
Na aldeia um alvoroço se fez. Uns tinham dores na barriga, outros tinham forte dores de cabeça. Outros, ainda, arrancavam sangue da própria pele, numa coceira incontrolável. Outros agiam como loucos incontrolados. Aos poucos, a morte foi chegando para alguns.
Xapanã apenas assistia...
Parecia que o tempo havia parado ao meio-dia, mas, na verdade, foram três dias de sol quente, pois a noite não chegava. Era apenas sol durante todo o tempo. E durante todo o tempo à aldeia viu-se às voltas com doenças, loucura, sede, fome, morte!
Xapanã, inerte, via tudo, imóvel...
Não agüentando mais, e vendo que Xapanã continuava do alto do pequeno morro observando, o dirigente de aldeia foi até ele suplicar perdão, atirando-se aos seus pés.
- Em nome de Olorun, perdoe-nos! Já não suportamos tanto sofrimento! Tente perdoar, por favor, Senhor Xapanã! Tente perdoar!
De súbito, Xapanã levantou-se, desceu até a aldeia e pisou na terra. Tornou-a fria. Tocou na água, tornou-a também fria; tocou os alimentos e tornou-os novamente comestível; tocou a cabeça de cada um dos aldeões e curou-lhes a doença; tocou os mortos e fez voltar à vida em seus corpos.
Restaurada a normalidade, Xapanã pediu mais uma vez:
-Quero um pouco de água e alguma comida para prosseguir viagem.
Num instante foi-lhe servido o que de melhor havia em toda a aldeia. Deram-lhe, vinhos de palmeira, frutas, carne, legumes, cereais, enfim, o que tinham de melhor.
Voltando-se para os aldeãos, Xapanã deu-lhes uma lição de vida.
-Vivemos num só mundo. Sobre a mesma terra, debaixo do mesmo sol. Somos todos irmãos e devemos ajudar uns aos outros, para que a vida seja mantida. Dar água a quem tem sede, comida a quem tem fome é ajudar a manter a vida.
Voltou-se e partiu. Atrás dele o povo da aldeia gritava:
-Xapanã, Rei e Senhor da Terra! Xapanã, Obaluaê! Xapanã, Obaluaê! Xapanã, Obaluaê!
Obaluaê que sua benção e proteção nos seja dada sempre.

Dados

Dia: segunda feira
Data: 13 ou 16 de agosto;
Metal: chumbo;
Cor: preto e branco e ou preto, branco e vermelho;
Partes do corpo: a pele e os pulmões;
Comida: deburú (pipoca), abadô (amendoim pilado e torrado), Iatipá (folha de mostarda) e ibêrem (bolo de milho envolvido na folha de bananeira);
Arquétipo: sóbrios, reservados, generosidade destacada, geniosos, independentes, teimosos, tendência ao masoquismo.
Símbolos: xaxará (com que limpa as doenças e os males espirituais)

NANÃ

Entre o mundo dos vivos e o mundo dos mortos, existe um portal. É a passagem, a fronteira entre a vida e a morte.Sua regente: Nanã. Senhora da morte, geradora de Iku (morte). Deusa dos pântanos e da Lama. Mãe da varíola, regente das chuvas, Nanã é de origem Jeje, da região da Dassa Zumê e Savê, no Daomé, hoje conhecida com República de Benin.
A mais temida de todas os Orixás. A mais respeitada. A mais velha, poderosa e séria. Nanã é o encantamento da própria morte. Seus cânticos são súplicas para que leve Iku – a morte – para longe e quem permite que a vida seja mantida.
É à força da Natureza que o homem mais teme, pois ninguém quer morrer! Ela é a Senhora da passagem desta vida para outras, comandando o portal mágico, a passagem das dimensões.
Nas casas de Santo, Nanã é extremamente cultuada e temida, pelo poder que ostenta. É ela a mãe da varíola e se faz presente quando existe epidemia da doença.
Nanã também está presente nos lodaçais, lamaçais, pois nasceu do contato da água com a terra, formando a lama, dando origem à sua própria vida. Em terras da África, Nanã é chamada de Iniê e seus assentamentos (objetos sagrados) são salpicados de vermelho.
Nanã é lama, é terra com contato com a água. Nanã também é o pântano, o lodo, sua principal morada e regência.
Ela é a chuva, a tempestade, a garoa. O banho de chuva, por isso, é uma espécie de lavagem do corpo, homenagem que se faz a Nanã, lavando-se no seu elemento. Por isso, não devemos blasfemar contra a chuva, que muitas vezes estraga passeios, programas, compromissos, festas e acontecimentos. A chuva é à parte da vida, que vai irrigar a terra. Se ela cai demais, é porque a força da Natureza, Nanã, está insatisfeita. E, amigo... Queira ver tudo, mas não queira ver a ira de Nanã. Posso lhe assegurar que não existe nada mais feio!
Considerada a Iabá (orixá feminina) mais velha, foi anexada pelos iorubanos nos rituais tal a sua importância. Nanã é a possibilidade de se conhecer a morte para se ter vida. É agradar a morte, para viver em paz. Nanã é a mãe, boa, querida, carinhosa, compreensível, sensível, bondosa, mas que, irada, não reconhece ninguém.
Nanã é o Orixá da vida, que representa a morte. E a isso devemos o máximo respeito e carinho.

Mitologia

Nanã, Senhora de Dassa Zumê, mãe de Obaluaê, Ossãe, Oxumarê e Ewá, elegante senhora, nunca se meteu, preocupou com o que este ou aquele fazia de sua própria vida. Tratou sempre de si e dos filhos, de forma nobre, embora tenha sido sempre precoce em tudo.
Entretanto, Nanã sempre exigiu respeito àquilo que lhe pertencia. O que era seu era seu mesmo. Nunca fora radical, mas exigia que todos respeitassem suas propriedades.
E, mas uma vez, vemos Ogum numa historia.
Viajante, conquistador, numa de suas viagens, ogum aproximou-se das terras de Nanã. Sabia que o lugar era governado por uma velha e poderosa senhora. Se quisesse, não seria difícil tomar as terras de Nanã, pois, para Ogum, não havia exercito, nem força que o detivesse. Mas Ogum estava ali apenas de passagem. Seu destino era outro, mas seu caminho atravessava as terras de Nanã. Isto ele não podia evitar e nem o importava, uma vez que nada o assustava e Ogum nada temia.
Na saída da floresta, Ogum deparou-se com um pântano, lamacento e traiçoeiro, limite do inicio das terras de Nanã. Era por ali que teria que passar. Seu caminho, em linha reta, era aquele – por pior que fosse e não importando quem dominava o lugar. O destino e objetivo de Ogum era o que realmente lhe importavam.
Parou à beira do pântano e já ia atravessá-lo quando ouviu a voz rouca e firme de Nanã:
- Esta terra tem dono. Peça licença para penetrar nela!
No que Ogum respondeu em voz alta:
- Ogum não pede, toma! Ogum não pede, exige! E não será uma velha que impedira meu objetivo!
- Peça licença, jovem guerreiro, ou se arrependerá. Retrucou Nanã com a voz baixa e pausada.
- Ogum não pede licença, avança e conquista! Para trás, velha, ou vai conhecer o fio da minha espada e a ponta de minha lança!
Dito isto, Ogum avançou pelo pântano, atirando lanças com pontas de metal contra Nanã. Ela, com as mãos vazias cerrou os olhos e determinou ao pântano que tragasse o imprudente e impetuoso guerreiro.
E assim aconteceu...
Aos poucos, Ogum foi sendo tragado pela lama do pântano, obrigando-o a lutar bravamente para salvar sua própria pele, debatendo-se e tentando voltar atrás. Ogum lutou muito, observado por Nanã, até que conseguiu salvar sua vida, livrando-se das águas pantanosas e daquela lama que quase o devorava.
Ofegante e assustado, Ogum foi forçado a recuar, mas sentenciou:
- Velha feiticeira! Quase me matou! Não atravessarei suas terras, mas vou encher este pântano de aço pontudo, para que corte sua carne!
Nanã, passível e calma, voltou a observar:
- Tu és poderoso, jovem e impetuoso, mas precisa aprender a respeitar as coisas. Por minhas terras não passarás, garanto!
E Ogum teve que achar outro caminho, longe das terras de Nanã. Esta, por sua vez, aboliu o uso de metais em suas terras.E, até hoje, nada pode ser feito com laminas de metal para Nanã.

Dados

Dia: sábado;
Data: 26 de julho;
Metal: latão;
Cor: branco com traços azuis ou roxos;
Partes do corpo: protege a barriga, o útero, a parte genital feminina, protege as mulheres gestantes;
Comida: Aberem(milho torrado e pilado do qual é feito um fubá com açúcar ou mel), mugunzá;
Arquétipo: tolerantes, mas implicáveis, maduros, lentos, firmes, bondosos, simpáticos, extremamente limpos e com temperamento artísticos;
Símbolo: ibiri e os bradjas ( contas feitas com búzios, dois a dois, e cruzados nos peitos, indicando ascendente e descendente).